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[DESBRAVANDO] Ultramaratona dos Perdidos 2018

Ultramaratona dos perdidos... tão falada, tão temida, carregava uma fama de ser uma prova muito dura, difícil, e de fato, essa pedreira é tudo isso mesmo.
[DESPERTAR] Desde suas primeiras edições eu já tinha muito fascínio em desbravá-la, corrida moldada em cima das provas mais clássicas do mundo, no estilo Sky Marathons (dentre suas principais características, elevadas altimetrias e terrenos bem técnicos), o percurso foi pensado para ser desafiador, com o nível técnico elevado, e claro, com o objetivo de se consolidar no calendário nacional como uma das principais provas nesse estilo no país e pelo visto conseguiu.
[VERÁS QUE UM FILHO TEU NÃO FOGE À LUTA] Enfim, na sua 7° edição eu consegui me programar para ir em busca de superação, entre trabalhos e família, parti para Curitiba/PR. Conforme o planejado, cheguei 3 dias antes da prova pensando no frio, 0ºC (isso mesmo, zero grau) e lá na região da prova já batia temperaturas negativas. 
[TÁ CHEGANDO A HORA] Recebi meu kit em Curitiba e apresentei os itens obrigatórios (mochila de hidratação, lanterna, jaquetas corta vento e outros mais) juntamente com um atestado médico e um termo de responsabilidade assinado.
[PARTIU] Fomos para a largada em transferes oferecidos pela prova (R$ 50) que saíram as 3 da madrugada de pontos já definidos dentro da capital paranaense. A prova é realizada numa região que fica por volta de 60 km da capital e sua largada seria dada às 6 da matina. Chegamos no local da largada e já fomos recebidos por um frio enorme (5 graus) e que piorava por ter vento. Todos logo se juntaram numa área de café da manhã montada para os atletas. Ali mesmo com 20 minutos para a largada todos são chamados para entrar na arena de largada, que estava totalmente fechada, com apenas um portão de acesso, pois um a um ao entrar teria que novamente esvaziar sua mochila para mais uma vez conferirem seus itens de segurança obrigatórios, só entraria para a largada se tudo ali estivesse ok. Itens conferidos, chip de cronometragem recebido ali mesmo e ai sim, você poderia entrar para a largada. Esses padrões de segurança são comumente exigidos também nas grandes provas nesse estilo mundo a fora. Por se tratar de muitos riscos em regiões mais isoladas.
[#VAMOSPCIMA] Dada a largada (pontualmente) todos ali partíamos para suas batalhas pessoais, no meu caso 45 km, que logo no início já encaramos 5 km de subida com 700m D+. O meu desafio já começou bem cedo, após 1 hora de prova, ao tomar o primeiro gel de carboidrato algo não caiu bem e comecei a sentir dor abdominal e muita azia (isso durou a prova inteira), mas a luta apenas começava, sentia uma dormência absurda nos pés, mais precisamente no esquerdo, possivelmente pelo frio lá no alto que era maior, isso me fez reduzir bastante nas partes mais técnicas que logo vieram, com muitas pedras, mato e lama encharcados e lisos, como eu não sentia direito onde pisava tive que ir com bastante cautela, pois já havia virado o pé uma ou outra vez. 
[ESTRATÉGIA] Com o passar do tempo, horas depois o clima esquentou mais e pelo menos a parte da dormência dos pés havia passado, a luta agora era contra as muitas subidas e descidas e aquelas dores estomacais. Por conta das dores, azia e enjoo eu não conseguia comer quase nada, daí tive que ir no "modo econômico", sem forçar muito o ritmo, poupando energia para triunfar com glória.
[ESTRUTURA] Eram quatro pontos de apoio (bem simples, mas eficientes) distribuídos em 2 pontos com água, frutas, refrigerante e isotônicos e nos outros somente água.
[FOCO] Com isso fui assim até o final, bebendo bastante líquido e comendo quase nada, cheguei a vomitar no km 32-33 ao tentar botar mais um alimento pra dentro, mas sempre consolado e ajudado por todo atleta e staff que eu encontrava no caminho. Algo que vemos muito nessas provas de montanha, um senso de companheirismo ímpar.
[FELICIDADE QUE DURA POUCO] Já nos quilômetros finais, aumentei um pouco o ritmo e vem a cereja do bolo no último km, uma lama gosmenta e gelada com afunda pé até na canela por uns 500 e eternos metros, dentro de um single track de mata fechada, isso logo no final onde a musculatura de todos já estava bem defasada, parecia até "pegadinha do malandro". Você ali sabendo que já estava bem próximo do final e vinha aquilo para "lhe segurar", eu particularmente ri bastante, sozinho mesmo, pois estava todo empolgado com a proximidade da chegada e fui sugado por aquela lama, que não nos deixava ir rápido pois a câimbra era certa. Depois dessa aventura na lama afunda pé ai sim, mais 500 metros de estradão e já com a visão da glória, podíamos ver então a estrutura da arena de chegada e as dores pareciam não existir mais naqueles últimos minutos, acelerei o passo e comemorei muito ali logo abaixo do pórtico, pois eu sonhava um dia concluir essa prova tão temida, não foi o dia perfeito, mas isso faz parte do esporte, que a cada prova nos ensina algo novo.
Por fim, Vida longa à Ultra dos Perdidos e como meus amigos do grupo Raiz Trail do Rio Grande do Sul dizem: "vida longa aos da montanha".
Por Plauto Holanda, Treinador esportivo / Personal Trainer / Diretor técnico da equipe Núcleo Outdoor

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